sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Manifesto do CAFAU pela liberdade de expressão na UnB.

Centro Acadêmico da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília

MANIFESTO PELA LIBERDADE DE EXPRESSÃO NA UNIVERSIDADE

"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".


Eduardo Galeano


“Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!”

Mário Quintana

A Universidade se constrói a partir de utopias e caminhada. A UnB foi criada como utopia. Imaginada como espaço de trocas de conhecimento e transformação. Ao longo de seus quase 50 anos, a UnB passou por caminhos tortuosos, obscuros, mas permaneceu de pé, sempre alimentada pela utopia de transformar o Brasil em um país mais justo e igualitário. Hoje vivemos um momento de profundas transformações na Universidade, que por um lado, caminha para uma maior democratização do acesso e requalificação de seus espaços mas por outro lado convive com o câncer da repressão a seus estudantes.

1968: A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo foi fechada por estudantes que exigiam melhores condições de ensino. O lema era:“Queremos formação e não formatura”.

2011: Três estudantes da UnB, ex-membros do CAFAU, são processados judicialmente por haverem no ano anterior protestado com a montagem de uma instalação artística, contra a metodologia de ensino adotada em uma disciplina. O lema parece ser: “Vocês vão ter que engolir”.

Este é o primeiro processo movido contra estudantes desde a ditadura militar de 1964-1985. É impossível para nós por meio deste documento expressar a profundidade de nossa indignação diante desta atitude arbitrária contra a liberdade de expressão dos estudantes. É uma ofensa aos Direitos Fundamentais garantidos pela Constituição Federal e à comunidade universitária.

É direito de qualquer cidadão apresentar críticas que visem à melhora de um serviço público. Nesse caso a crítica veio com arte, e a resposta dada foi absolutamente desproporcional, visto que além de despropositada na forma, demonstra uma tentativa de dividir o movimento estudantil, processando indivíduos e não o coletivo, representado pelo CAFAU. Consta ainda na lista de absurdos o fato de que as câmeras de segurança da Universidade foram utilizadas para a identificação dos autores da intervenção artística, desvirtuando completamente o sentido do sistema de vigilância. Algo que deveria ser utilizado com a finalidade de proteger os estudantes é utilizado para reprimi-los.

Darcy nos ensinou que “numa Universidade tudo é discutível”, inclusive os mecanismos utilizados para a troca do conhecimento, é papel dos estudantes promover o debate que gere a melhora contínua do ensino da pesquisa e da extensão. Darcy também ensina que não devemos nos resignar, e nesse sentido, aprendendo com mestre, não vamos nos calar diante das injustiças. Nossa utopia hoje é transformar esta Universidade em um espaço de diálogo franco, onde ninguém seja reprimido por manifestar uma opinião que busque o aperfeiçoamento das coisas, e não pretendemos deixar sequer um dia de caminhar até esse ideal.

Brasília, cidade nascida da utopia, 02 de fevereiro de 2011.

CAFAU


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