Noites de Leitura - Primeira Edição (parte 2)

A primeira edição do Noites de Leitura foi uma delícia!

Nos encontramos no CACEN, como combinado, e fomos para a fogueira acesa no gramado da Concha Acústica. O Professor Fernando Martins abriu a Noite com texto “Escutatória”, de Rubem Alves, que versava sobre o desafio da escuta. A partir daí todos se sentiram muito à vontade para ler os contos e poemas que tinham trazido.

A noite foi escurecendo, as velas foram acesas e a fogueira continuava a marcar nosso encontro. Começamos com quatro pessoas e de repente já éramos dezoito. Clarice Lispector, Vinícius de Moraes, Neruda, Viviane Mosé, Marcelino Freire, Laura Moreira, Márcia Amaral, entre muitos outros autores de palavras que foram lidas e declamadas e encenadas e emocionaram a todos, plenas testemunhas da poesia numa sexta à noite em volta do fogo.

A chuva espreitou, mas não deu as águas até que saíssemos lá pelas dez, depois de três horas de prazerosa troca de palavras e silêncios.

“Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto...” (Rubem Alves)

Das Vantagens de Ser Bobo - Clarice Lispector

(um dos textos lidos na Noite, pelo Professor Fernando Martins)

“O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo.

(...)

É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.”

Agradecemos ao Professor Fernando Martins por sua absoluta sensibilidade na proposição e condução dessa primeira Noite e também a todos que se inscreveram, e foram, e aos passantes que estavam, e ativeram-se.

Até breve, na próxima edição, bobocas!

ps:

DESDOBRAMENTO DA NOITE DE BOBOS

E, bobocas, saímos de nossas leituras, lendo um mundo muito bom, mas já atordoados por um som muito alto que então começara, bem a tempo de terminarmos. Uma festa que até hoje não sabemos quem realizou estava se iniciando no Espaço Chico Mendes.

No dia seguinte, ficamos bobos com a sujeira que os espertos deixaram no nosso gramado. Meio abobados com tudo aquilo procuramos nos informar se a prefeitura já estva acionada para limpas a total falta de escutatória. Escuta de que se tem mãos e pernas e que no mínimo aminha latinha eu posso jogar no lixo... Escuta de que o mundo não é o chiqueiro que deve ser minha cabeça...

Bem, pra nossa surpresa a prefeitura do campus não estava sabendo da festa.

Então fizemos a bobagem de limpar pelo menos o nosso espaço, já que o Espaço Chico Mendes estava inadentrável. Coitado do Chico Mendes...

Limpamos nosso espaço e demos esse presente... gente boba...

Pedro Mesquita, Mateus Gandara, Rebeca, Lorena, Luciana, Túlio e Tatiana transformaram-se nessa ação.

FELIZ NATAL!